sábado, 4 de dezembro de 2010

Chuvas

O vento frio de Brasília no meu rosto suado leva as gotas do meu esforço pra longe, e eu agradeço por tirar o peso dos meus olhos.

Pode não parecer muito, o peso de gotas, mas depois dos 2000 metros tudo pesa.

E eu grito comigo mesmo:

“faltam só 1000, só 1000, só mais 2000 passos, 1000 metros... 1000 metros porra... é metade do que você já fez, bora você consegue, 1000m não são nada...”.

A musica alta do meu mp4 velho ajuda a esquecer o cansaço e a dor que aos poucos invade minhas pernas curtas...

A cada passo, cada impacto do chão nos meus joelhos, sinto que já não tenho mais forças, sinto que todo meu fôlego se foi... E agora preciso abrir a boca pra respirar.

Não sei como ou quando, mas a placa de 2400 esta ao meu lado, e eu volto a gritar comigo mesmo:

“Bora! Porra! daqui pra frente é só coração, você pode, não desiste, esquece a dor, esquece o fôlego, esquece tudo, só continua, você continua, dê o melhor de si, dê realmente o melhor de si...”

A placa de 2600 parece longe, inalcançável pra alguém nas minhas condições, então eu fecho os olhos pra não ver o quão longe é meu objetivo, fecho os olhos pra não parar, fecho os olhos pra não pensar, fecho os olhos, mas, mesmo assim, a pista é clara na minha mente, cada depressão, cada linha, cada curva, eu vejo toda ela, a pista, ela é meu objetivo e inimigo, e eu grito comigo mesmo:

“EU NÃO VOU PERDER!”

Eu continuo e agora é a de 2600 metros que esta ao meu lado, meus músculos agora queimam, já não me resta mais ar nos pulmões, minha pulseira de pano pesa, e até mesmo o vento frio no meu rosto me empurra pra trás. Mas eu não paro, e nessa hora eu penso em todos os que não pararam, eu penso em todos que apesar de todas as dificuldades continuaram, penso em todos os personagens que nunca pararam, que nunca se deixaram desistir, eu fecho os olhos e vejo cenas desses heróis superando todos os limites, e agora, mais alto do que nunca, eu grito comigo mesmo:

“VOCÊ PODE, NÃO DESISTA, NÃO DESISTA, NÃO DESISTA, VOCÊ NÃO DESISTE, VOCÊ CONTINUA, VOCÊ NÃO PARA, NUNCA, NUNCA, NUNCA, NUNCA , NUNCA DESISTA, DÊ O MELHOR DE SI, DÊ O MELHOR MESMO...”

Agora eu vejo ao meu lado a de 2800, meu corpo dói, minhas pernas queimam, todo meu corpo grita pra que eu pare, mas meu coração não ouve, ele continua a bater e fazer com que mesmo gritando de dor, meu corpo continue a se mover, minhas pernas pedem que eu diminua o ritmo, mas meu coração as manda aumentar, meus pulmões se abrem, e meu coração atira... E urrando de dor meu corpo dispara e eu vejo, a única coisa q eu vejo é a placa de 3000, me olhando de cima, onipotente, gritando que eu não posso, gritando que meu corpo morrerá antes que eu a alcance, meu coração não da ouvidos e grita mais alto, ele bate mais forte, minha vista embaça, mas a placa ainda é nítida...

“40 passos... só mais 40... 30 passos... 20 passos mais... 10 passos a mais... só mais 10 passos... PAHHHHHHHHHHHHH”

Eu a soco e olho o relógio, 11'57'', eu caio, caio sem forças, sem fôlego, me deleitando em prazer.

“A dor e o prazer não são sentimentos opostos, eles são vizinhos, separadas por uma fina linha, a linha dos seus objetivos, ultrapasse-a e toda a dor de outrora, a dor que te custou para ultrapassá-la se transformará em prazer, no mais puro e doce prazer”.

Um grande homem uma vez me contou que dois camponeses precisavam desesperadamente de chuva, e os dois oravam a deus pedindo pela a água que salvaria suas plantações, no entanto, só um deles preparou a terra, e quando a chuva veio só esse obteve a plantação rentável.

Se me perguntam por que faço isso, por quê eu me esforço tanto se minha posição é uma das ultimas, se minhas chances são baixas, por quê?

“Estou preparando meu terreno, estou me preparando para a chuva que eu sei que virá.”